O primeiro modelo de estrutura elétrica de uma nuvem de tempestade isolada foi proposto no começo do século 20, com base em medidas de campo elétrico e da carga contida nas partículas de chuva. Ele pode ser descrito como um dipolo elétrico, composto por dois centros de cargas representando uma região carregada positivamente acima de uma região carregada negativamente.
O centro positivo superior ocupa a metade superior do volume da nuvem, enquanto o centro negativo está localizado na metade inferior da nuvem. A carga nestes centros pode variar consideravelmente de um local para outro e de nuvem para nuvem, com valores desde uma dezena a algumas centenas de Coulomb. Associado a esses centros de cargas dentro da nuvem, um campo elétrico na atmosfera ao redor da nuvem é gerado e pode ser visualizado por linhas de campo elétrico. Em um dado ponto, o campo elétrico é tangente a estas linhas.
No final da década de 1930, um novo modelo foi proposto para a estrutura elétrica das nuvens de tempestade isoladas, considerando uma estrutura tripolar. Neste modelo, três centros de cargas são considerados. Dois centros de carga positivos, um na parte superior e um na parte inferior da nuvem, e um centro negativo no meio da nuvem. O centro de cargas positivas inferior foi considerado estar associado às cargas positivas provenientes do solo por efeito corona.
Na década de 1940, foi incorporada a este modelo a existência de finas camadas de cargas na base e no topo da nuvem, carregadas respectivamente com cargas positivas e negativas, denominadas camadas de blindagem. Estas camadas são produzidas pelo aprisionamento de íons da atmosfera, gerados por raios cósmicos às partículas da nuvem, e atuam de modo a blindar parcialmente a região externa da nuvem dos campos internos.
Na década de1970, evidências foram encontradas de que a região de cargas negativas mantinha-se concentrada em uma estreita camada, em uma altura onde a temperatura variava -15°C a 0°C, independentemente da altura do topo da nuvem, enquanto a carga positiva ficava distribuída na região superior da nuvem.
Medidas feitas na última década com balões que penetram as nuvens de tempestade e medem o campo elétrico têm mostrado que a estrutura elétrica de uma nuvem de tempestade isolada é mais complexa que a estrutura tripolar, caracterizando-se como uma estrutura multipolar, com variações de uma região para outra dentro da nuvem. Tem-se identificado que a região de correntes ascendentes apresenta quatro centros de carga, localizada em alturas que aumentam à medida que a velocidade das correntes aumenta, enquanto a região de correntes descendentes normalmente apresenta seis centros de carga.
Em geral, nas regiões de correntes ascendentes de tempestades supercelulares as cargas tendem a se localizar em alturas maiores do que em outras tempestades, devido à maior intensidade dessas correntes nesse tipo de tempestade. Tem-se encontrado também que, durante a fase dissipativa, parte das cargas contidas nos centros inferiores da nuvem é levada para o solo pela chuva, alterando a estrutura elétrica da nuvem.
Medidas feitas com dois balões simultaneamente dentro de uma tempestade têm mostrado que o efeito de um relâmpago sobre a estrutura elétrica da tempestade é pequeno, restrito a uma pequena área (alguns quilômetros) e a um curto intervalo de tempo (menos de um minuto).
Embora não existam informações detalhadas sobre a estrutura elétrica das nuvens de tempestade organizadas, acredita-se que elas possuam uma estrutura similar à estrutura das tempestades isoladas, ao menos na região convectiva. Na região estratiforme, a estrutura elétrica também tem o caráter multipolar, embora tenda a apresentar uma região preponderante de cargas positivas localizada próxima à região com temperatura em torno de 0 °C.
Em termos gerais, dois diferentes mecanismos têm sido propostos para explicar as cargas elétricas existentes na região estratiforme: a advecção, isto é, o transporte de cargas da região convectiva, e os processos locais. Ambos os processos atuam simultaneamente.
Dentro de uma nuvem de tempestade, o campo elétrico pode atingir valores tão intensos quanto 400 mil V/m. Embora intensos, esses campos são inferiores ao campo elétrico para a quebra de rigidez dielétrica dentro da nuvem (cerca de 1 milhão V/m), calculado a partir de seu valor no solo (em torno de 3 milhões V/m). Acredita-se que a quebra da rigidez dentro das nuvens para valores de campo mais baixos ocorra devido à ação das gotículas de água e dos raios cósmicos.
No solo, apesar de atenuado, o campo elétrico de uma nuvem de tempestade é ainda em torno de 10 kV/m, o que equivale a cem vezes o valor encontrado em regiões de tempo bom. O campo apresenta variações rápidas associadas aos relâmpagos, seguidas por uma variação lenta indicando o fim da tempestade, conhecida como oscilação de fim de tempestade. Esta oscilação está associada a mudanças da estrutura elétrica da nuvem na fase dissipativa, provocada pela precipitação e neutralização das camadas de blindagem da nuvem. A presença deste campo faz com que uma corrente corona de alguns miliampères de intensidade saia de diversos objetos embaixo da nuvem.