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Seminário no INPE apresenta resultados dos experimentos

por INPE
Publicado: Nov 23, 2006
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São José dos Campos-SP, 23 de novembro de 2006

Realizado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Seminário sobre os resultados da Missão Centenário comprovou que os experimentos trouxeram ganhos e demonstraram a capacidade do País em prepará-los e executá-los no espaço. O evento, promovido pela Agência Espacial Brasileira (AEB), aconteceu nos dias 21 e 22 de novembro no auditório do Laboratório de Integração e Testes do Instituto, em São José dos Campos. O seminário reuniu os gerentes dos oito experimentos embarcados na nave Soyuz, além do astronauta brasileiro Marcos Pontes, que foi responsável pelo acompanhamento dos estudos durante a missão à Estação Espacial Internacional.

Segundo o assessor técnico-científico da AEB, Raimundo Mussi, os oito estudos, que abrangem áreas distintas, contribuíram à sua maneira para "aumentar o conhecimento sobre ciência básica ou sobre tecnologias em andamento".

Na tarde de terça-feira (21) foram apresentados os resultados iniciais dos estudos das universidades do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Federal de Santa Catarina (UFSC), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/Cenargen) e do INPE.

Na quinta-feira (22), o Centro Universitário da FEI, da UFSC, o Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA/MCT) e a Secretaria Municipal de Educação de São José dos Campos também mostraram suas conclusões. Confira abaixo um resumo de cada apresentação.

UERJ e INPE

Segundo Heitor Evangelista, coordenador da pesquisa, foi possível estudar a capacidade de reparo de lesões no DNA de microrganismos devido à exposição à radiação proveniente do Sol e das galáxias, recebidas durante a permanência na Estação Espacial Internacional (ISS). Para se ter uma idéia, a radiação recebida em cerca de 10 dias fora da Terra é equivalente àquela registrada durante um ano comparativamente à superfície do Planeta.

Para o cientista, no entanto, os maiores ganhos foram o desenvolvimento tecnológico de uma nova instrumentação e a possibilidade de quantificar a sobrevivência e a mutagênese (mutação genética) de cepas bacterianas selvagens e mutantes, a fim de compreender a resposta do código genético à radiação ionizante, com vistas à análise de risco de viagens espaciais.

"No entanto, um resultado inusitado foi perceber que as bactérias mutantes (aquelas com deficiências no mecanismo de reparação) sobreviveram mais do que as bactérias selvagens, apesar do alto nível de mutagênese observado", diz.

UFSC

A Universidade Federal de Santa Catarina também mostrou os resultados do experimento com evaporadores capilares. "Conseguimos comprovar que o experimento funcionou bem no espaço e está qualificado", informou o engenheiro Edson Bazzo. O sistema é destinado ao controle térmico de equipamentos que funcionam no espaço, tais como satélites.

Para o professor, o experimento pode contribuir para o aprimoramento da tecnologia nacional voltada ao setor aeroespacial. "Estamos abertos às empresas que tenham interesse nesse trabalho em cooperação e queiram participar do mercado de equipamentos espaciais", revelou. A equipe do pesquisador montou o equipamento em alumínio e aço inox, utilizando água como fluido de trabalho e eletrônica dedicada.

Embrapa

Segundo a engenheira florestal Antonieta Salomão, da Embrapa/Cenargen, as sementes da árvore Gonçalo-Alves trouxeram resultados interessantes sobre a biossíntese de pigmentos da fotossíntese (clorofilas e carotenóides).

Folíolos de plântulas que iniciaram a germinação na Estação Espacial Internacional (ISS) apresentaram concentrações maiores desses pigmentos. "Isto pode contribuir para estudos posteriores sobre as vias metabólicas dos carotenóides, que são importantes fontes de vitamina A e atuam como antioxidante, dentre outras funções no organismo humano", aponta Antonieta.

Outras conclusões foram as de que a emissão e o crescimento das radículas foram mais rápidos e uniformes que em condição de laboratório. "Provavelmente, a menor tensão à absorção de água e a menor resistência à mobilidade de nutrientes dos tecidos de reserva favoreceram as etapas iniciais de germinação em condições de
microgravidade".

FEI

No experimento do Centro Universitário da FEI com enzimas, os pesquisadores observaram que as reações químicas ocorreram mais rapidamente que na Terra para a enzima invertase. "A velocidade foi sete vezes maior que em solo", revelou a cientista Adriana Luccarini. O dado curioso é que outra variável da reação, também foi elevada.

Para Adriana, essas informações levantam mais indagações que certezas porque as duas componentes se "contradizem". "Precisamos de mais repetições para chegar a uma conclusão".

O estudo da FEI busca auxiliar a geração de conhecimento técnico em biotecnologia para melhorar o desempenho de processos que usam enzimas, de aplicação na indústria alimentícia e de química fina, por exemplo.

Minitubos de calor

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) conseguiu qualificar os minitubos de calor, também parte de sistemas de controle térmico para equipamentos espaciais. De acordo com Márcia Mantelli, coordenadora, a principal novidade do experimento foi comprovar que os minitubos brasileiros, feitos por um processo de fabricação inovador e mais simples, funcionam.

"Mostramos que o país tem capacidade de desenvolver sistemas de controle térmico para os produtos do programa espacial brasileiro", ressaltou.

A pesquisa do grupo já gerou derivações para outros setores industriais, tais como petroquímico e até fabricação de fornos de padaria.

CenPRA

As primeiras imagens obtidas pelo experimento do Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA/MCT) e exibidas com exclusividade no Seminário impressionam pela beleza, numa pesquisa que envolve ciência e arte. Luzes azuladas e pontos verdes surgiram em meio a um fundo preto no interior da câmara de reação, quando iluminadas por luz ultravioleta.

Para o pesquisador Aristides Pavani Filho, esta é a matéria-prima que permitirá iniciar as análises sobre fenômenos como a atomização e as reações químicas através da influência da gravidade nos padrões de luminescentes obtidos.

Este estudo poderá contribuir para o desenvolvimento de novos sistemas de síntese e análise de compostos químicos e biológicos.

Experimentos escolares

Os resultados das pesquisas sobre germinação do feijão e cromatografia da clorofila mostraram diferenças para a sementes cultivadas no espaço e na Terra, e semelhanças entre a separação dos pigmentos da clorofila entre aquelas testadas nos dois ambientes.

Para Elisa Saeta, professora da Secretaria de Educação de São José dos Campos, no entanto, os maiores benefícios da pesquisa foram outros: estimular o interesse por ciência e tecnologia, enfatizar a importância do trabalho em equipe e permitir aos alunos vivenciar o método científico pela comparação, criação de gráficos, tabelas e levantamento de hipóteses.

E, pelo relato da aluna Tânia Reis, 13 anos, da Escola Municipal Maria de Melo, o objetivo foi atingido. "Agora a gente se sente mais motivado para aprender".

O Seminário contou com a participação do astronauta Marcos Pontes, de representantes do INPE, Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e interessados em geral. A partir desta quinta-feira (23), também em São José dos Campos, no auditório do Laboratório de Integração e Testes (LIT) do Inpe, começa outro seminário científico, desta vez sobre o Programa Uniespaço, de apoio ao desenvolvimento de tecnologias para o programa espacial.


Marta Carvalho Humann, coordenadora do Seminário; Raimundo Mussi, assessor técnico-científico da AEB e gerente da Missão Centenário; astronauta Marcos Pontes e Irajá Bandeira, pesquisador do INPE e coordenador dos experimentos


União entre pesquisadores, equipes da AEB, INPE e IAE/CTA e astronauta garantiram o sucesso da Missão Centenário


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