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Diretor do INPE/MCTI fala sobre o satélite Amazonia 1

por INPE
Publicado: Mar 05, 2021
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São José dos Campos-SP, 05 de março de 2021

Para esclarecimento do público e da imprensa em geral, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), publica na íntegra as respostas de seu diretor, Clezio Marcos De Nardin, para a revista IstoÉ sobre questões relacionadas ao lançamento do satélite brasileiro Amazonia 1.

1) Qual a importância do lançamento para o nosso País?

O Amazonia-1 é um satélite controlado em três eixos. Isso significa que ele tem capacidade de apontamento diferente do primeiro satélite brasileiro (SCD-1, satélite de coleta de dados) que, diga-se de passagem, ainda está em funcionamento.

Estabelecida essa informação inicial, podemos falar que temos duas importâncias principais no lançamento com sucesso do satélite Amazonia 1 para o Brasil. A primeira diz respeito à capacidade que o satélite tem de produzir um imageamento do mesmo ponto do globo terrestre a cada dois dias (sob demanda e programação específica). Isso significa dizer que nós temos um satélite 100% sob controle nacional que pode ser usado para monitorar um eventual desastre natural e pode assessorar todos os planos de mitigação de órgãos específicos de governo. Além disso, agora contamos com um terceiro satélite monitorando o território nacional e, em especial, a Amazônia. Isso melhora o tempo de revisita e significa dizer que, é muito provável, o problema de observação com condições de nebulosidade seja mitigado.

A segunda grande importância deste lançamento com sucesso reside na capacidade de desenvolver um satélite per se. Com isso, o Brasil valida uma plataforma espacial que tem capacidade de apontamento e cujo projeto, construção e operação foi levado a cabo totalmente pelo INPE/MCTI e pelas empresas consorciadas. Deste modo, ganhamos maturidade e capacidade de fazer um satélite de apontamento dessa mesma natureza para qualquer outra atividade que seja de interesse nacional como, por exemplo, monitoramento de vazão de rios, disponibilidade hídrica para grandes terras agricultáveis, hidrelétricas, barragens, além de monitoramento de oceanos e grandes rios.

2) Acha que o feito pode aumentar os investimentos em programas espaciais nos próximos anos?

Sinto desapontar a todos, mas, não. Em minha opinião, este grande feito da nossa engenharia nacional, isoladamente, não vai aumentar por si só os investimentos no Programa Espacial Brasileiro nos próximos anos.

Ele, com certeza, demonstra a capacidade que o INPE/MCTI, juntamente com demais agentes do Programa Espacial Brasileiro, tem de prover soluções que causam impacto na vida da sociedade e que tem capacidade de redução de custos em todos os outros programas de governo. Isso é o caso, por exemplo, do monitoramento de águas nas barragens hidrelétricas. Através do controle de vazão adequado (monitoramento por satélite e previsão numérica do tempo com 30 dias de antecipação) podemos fazer com que o Brasil tenha maior capacidade e controle sobre a sua produção energética. Deste modo, garantimos maior autonomia energética para o país, impulsionando a produção industrial e reduzindo o custo da energia para o cidadão, que acaba não tendo que usar o pagamento em condições "bandeira amarela" ou "vermelha" por conta de acionamento de usinas termoelétricas.

Somente com outros órgãos de governo reconhecendo a importância e a capacidade que o Programa Espacial Brasileiro tem de economizar os recursos de suas pastas podemos aumentar os investimentos no setor espacial. E isso é justamente o que o INPE/MCTI está fazendo. No seu planejamento estratégico, que está em curso na instituição, o INPE/MCTI está desenhando um modelo para o programa espacial brasileiro que ouve as necessidades de 30 instituições de governo para saber o que elas querem do INPE nos próximos 20 anos. Isso sim vai trazer recursos para o Programa Espacial Brasileiro, pois estaremos atendendo a necessidades dos outros órgãos de governo, associado ao repasse de recurso apropriado.

3) Como o Brasil está em termos de corridas espaciais e desenvolvimento?

Nós estamos equiparados aos países que têm capacidade de construir plataformas espaciais, como é o caso do Canadá, por exemplo.

Em termos de plataformas espaciais, acabamos de provar que somos capazes de desenvolver plataforma de satélites médios com capacidade de apontamento. Contudo, ainda precisamos estabelecer um programa eficiente e contínuo de satélites pequenos e desenvolver capacidade de controle de satélites em voo "em formação". Também precisamos adquirir, num prazo um pouco mais dilatado, a competência para desenvolvimento de satélites geoestacionários.

No que tange a lançadores, o Programa Espacial Brasileiro já avançou no desenvolvimento de lançadores suborbitais que conseguem lançar cargas úteis em foguetes de órbita baixa. Ainda precisamos investir no desenvolvimento de um lançador para satélites pequenos e, na sequência, para satélites de maior porte.

4) Quais suas expectativas para o futuro do Brasil na área?

Eu sou um otimista, caso contrário não teria concorrido à direção do INPE/MCTI num momento de crise econômica mundial (ou perto disso) e com o instituto tendo o seu menor quadro de funcionários de sua história. Mas eu sou um otimista, não por ser ingênuo, mas por conhecer a capacidade que essa instituição tem de se reinventar e de produzir feitos fantásticos como o lançamento do Amazônia-1 em meio a uma pandemia de COVID-19, com aeroportos fechados e relações comerciais reduzidas ao máximo.

Ademais, acabamos de passar por um processo de reestruturação que vai ajudar o INPE/MCTI a otimizar os recursos, aumentar sua eficiência e garantir sua eficácia nos próximos anos. Mas vamos precisar de apoio de toda a sociedade e dos parlamentares, como o deputado Eduardo Cury, que providenciou uma emenda para garantir a continuidade das pesquisas no INPE/MCTI, e da deputada Carla Zambelli, que providenciou outra emenda que financiou a formação de jovens pesquisadores e engenheiros durante o desenvolvimento do satélite Amazônia-1.

Com este apoio e com o entendimento de outros órgãos de governo, como já mencionei acima, eu vejo um futuro brilhante para o programa espacial brasileiro.


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