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Manejo sustentável pode salvar a Amazônia das queimadas

por INPE
Publicado: Jul 15, 2019
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São José dos Campos-SP, 15 de julho de 2019

Imagem Manejo sustentável pode salvar a Amazônia das queimadas

O uso planejado e sustentável da terra na Amazônia pode minimizar drasticamente a degradação florestal na região provocada pelo aumento de incêndios devido às mudanças climáticas. Esta é a conclusão do estudo, publicado nesta segunda-feira (15/07) na revista Global Change Biology pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em colaboração com o Centro de Pesquisa e Monitoramento de Desastres (Cemaden) e as universidades de Exeter (Reino Unido) e de Estocolmo (Suécia).

Intitulado "Efeitos de cenários de mudanças climáticas e de uso do solo na probabilidade de fogo durante o século 21 na Amazônia brasileira" (Effects of climate and land-use change scenarios on fire probability during the 21st century in the Brazilian Amazon), o trabalho mostra que as futuras conversões de floresta para usos agropastoris não manejados adequadamente podem causar um aumento de mais de 70% na extensão de áreas com alta probabilidade de fogo no final deste século em relação aos padrões observados.

Este cenário inclui, por exemplo, a redução da efetividade das áreas protegidas, a pavimentação de novas rodovias e o aumento do desmatamento. Quando combinado com o cenário pessimista de mudança climática do CMIP5 do IPCC, que projeta maiores emissões de gases de efeito estufa (GEE) ao longo do século 21, a área com alta probabilidade de incêndios poderia aumentar em até 110%.

"Se continuarmos removendo a cobertura florestal na Amazônia, estaremos potencializando a probabilidade de degradação das florestas remanescentes, com consequências para a estabilidade dos estoques de carbono e serviços ambientais", diz Marisa Fonseca, pesquisadora de pós-doutorado no INPE e principal autora do estudo.

Os resultados indicam que mais de 1 milhão de km² em terras indígenas ou áreas protegidas estariam sujeitas a uma maior probabilidade de ocorrência de incêndios florestais, ameaçando tanto os ecossistemas quanto as populações humanas nessas áreas. A adoção de medidas destinadas a reduzir o desmatamento e as emissões de GEE, no entanto, pode reduzir significativamente a probabilidade de incêndios florestais, mesmo com a intensificação das secas na Amazônia no final do século.

O aumento da área com alta probabilidade de incêndio seria 90% menor no cenário que considera o cumprimento da legislação ambiental e, também, a proteção de unidades de conservação e a consequente redução do desmatamento para taxas anuais abaixo de 1.000 km² até 2025. Assim, haveria redução das taxas de emissões de GEE, com posterior estabilização na segunda metade do século.

Para alcançar o nível de mudanças considerado no cenário otimista do estudo, um esforço coordenado pela sociedade civil, governo e especialistas é fundamental, dizem os cientistas.

"O estudo identifica um problema muito sério e temos que usar este resultado em benefício do desenvolvimento sustentável do Brasil", afirma Luiz Aragão, chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do INPE. “Pela primeira vez conseguimos demonstrar que, embora o clima esteja mudando, com a possibilidade de consequências negativas para a Amazônia, o maior vilão na questão das queimadas é o uso mal planejado da terra nessa região".

Ao contrário do clima, os problemas relacionados ao uso da terra podem ser resolvidos com medidas de controle que podem ser implementadas rapidamente, resolvendo uma fração significativa do problema.

"A produção energética no Brasil é centrada em energia hidrelétrica. Além disso, grande parte da economia brasileira é baseada em produtos biológicos, derivados de plantas e animais. Para manter a balança comercial brasileira positiva, há a necessidade de garantir a exportação desses produtos. Para promover o desenvolvimento nacional, portanto, a sociedade e os governos têm que entender que precisamos da floresta Amazônica com sua plena extensão e funcionamento para garantir, dentre outros serviços essenciais, o provimento de chuva para a produção agrícola e para o abastecimento das bacias hidrográficas”, conclui Aragão.
 


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